Rony Jason: 'Aprendi que tenho que esperar o inesperado do adversário'

RONY JASON (Foto: Ivan Raupp)

O peso-pena Rony Jason vinha em uma ótima sequência no UFC até ser surpreendido por um chute alto de Jeremy Stephens em sua última luta, golpe que o levou a nocaute com menos de 1 minuto. O cearense conta que teve grande aprendizado com a derrota, principalmente em relação ao que esperar dos seus oponentes. Contra o americano, Rony diz ter se preocupado somente com as mãos dele, sem dar atenção às pernas:

- Eu estava preparando um golpe. Treinei muito boxe, vi que os chutes dele não me preocupavam. Isso eu aprendi na luta: sempre esperar o inesperado do seu oponente. Quem assiste à luta do Steven Siler sabe que ele chuta mal. Ele chuta no máximo na altura do peito e raramente dá chute alto. Sempre me preocupei muito com as mãos dele no treino. Então, a minha mão baixa era de propósito, porque queria que ele me golpeasse, ou com golpe em linha ou com cruzado de direita, porque eu iria sair respondendo para pegar de encontro. Nunca imaginei que ele poderia me dar um chute. Tanto que baixei a cabeça o máximo possível, porque imaginei que viria um cruzado. No primeiro contato que a gente teve, o meu cruzado passou lambendo a cabeça dele. Até meu professor de boxe estava no córner, o Erivan (Conceição), e falou "Minha nossa!", porque se pega ele teria sido nocauteado. E no momento do nocaute o meu cruzado estava a dois dedos do queixo dele. Se ele não tivesse chutado naquele momento, possivelmente eu teria nocauteado. Mas de "se" ninguém vive. Por isso aprendi que tenho que esperar o inesperado do meu adversário - disse o campeão do primeiro The Ultimate Fighter Brasil, em entrevista ao Combate.com.

Após a derrota, Rony deixou o octógono revoltado e muito triste consigo mesmo e descarregou as emoções com uma cotovelada numa parede de acrílico nos bastidores do UFC em Goiânia. O resultado foi a quebra da parece e alguns cortes no braço esquerdo do lutador, que lhe renderam vários pontos. Ele desabafou sobre o episódio:

- Não me arrependo, mas também não acho que foi certo o que eu fiz. Ali foi um momento onde tentei extravasar. A gente do UFC sempre vive com a corda no pescoço. Com mais duas vitórias eu poderia estar disputando cinturão. Perdi uma e estou em tempo de ser demitido. Então você imagina mil coisas na sua cabeça. Era muita responsabilidade. Tenho dois filhos para criar, tenho minhas dívidas, tenho que pagar meu aluguel e minhas contas, água, carro, luz. Fora que fiquei imaginando quantas pessoas eu tinha decepcionado, a minha equipe, os meus treinadores. Uma das poucas alegrias da minha cidade (Quixadá-CE) é quando eu ganho, os caras fazem carreata e tudo. Então, fiquei muito triste. Foi uma maneira minha de desabafo, de arrependimento comigo mesmo. Sonhei tanto com aquela luta, que seria uma grande luta, nem que eu perdesse no final. Queria que fosse um pau da porra, porque sei que o Jeremy é um cara duro e experimentrado. Eu queria me ver brigando com um cara brigador. Ainda sonho com uma luta dessas antes da minha aposentadoria daqui a dez anos.

Ao contrário das últimas lutas, Rony Jason desta vez fez a preparação inteira para o duelo contra Steven Siler em Natal, na Pitbull Brothers, academia dos irmãos Patricio e Patrick Pitbull, em vez de ir para a Team Nogueira, no Rio de Janeiro. Mas ele garante que foi uma questão de aclimatação, já que vai lutar em casa, e que segue atleta da equipe de Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro. Também existem outras razões:

- Primeiramente porque meu anjo da guarda, Bruno Machado, está alçando voos mais altos, mérito totalmente dele, e está dando aulas em Abu Dhabi. Ele foi fazer o que sabe de melhor, que é preparar campeões. Segundo que Patricio veio para cá, Patricky e Gasparzinho já moram aqui, Leandro Higo também veio. Apesar da Team Nogueira ter grandes atletas, sou mais familiarizado com esses lutadores. Leandro é o melhor peso-galo do Brasil, Patricio é o melhor pena do mundo, e Patricky é um dos melhores dos leves. E Gasparzinho tem um dos melhores jogos de muay thai. Trouxemos agora o Luis Predador da Team Nogueira, o Tourão no kickboxing, e também no boxe o pai do Renan Barão, Netinho. O Neguinho, preparador que trouxe de Quixadá-CE, e o meu irmão, que pela primeira vez está me ajudando no camp. Após dez anos de dependência química, ele deu a volta por cima e hoje está comigo. Ganhei o TUF me espelhando nele, e hoje ele está fazendo o camp junto de mim.

Sobre o americano Siler, que será seu adversário neste domingo, no Ginásio Nélio Dias, Rony Jason comemora o fato de enfrentar mais um lutador que tem certo nome na categoria. E recorda mais uma vez o último combate para fazer novo desabafo:

- O UFC só tem me dado pessoas duras, e fico feliz com isso. Quanto mais duros meus adversários, mais duro é o treinamento e mais duro eu vou ficar. Depois da minha última luta, pedi muitas desculpas nas minhas redes sociais. Depois os meus amigos conversaram comigo e realmente não preciso pedir desculpas. Fui fazer o meu trabalho, e infelizmente não deu certo. Masfico feliz pelas escolhas das minhas lutas. Muita gente falou que só peguei meia-boca no UFC e, quando peguei um cara duro, fui nocauteado. Um cara desse não pode nem ser chamado de repórter, porque não foi a um treino meu, não viu nada. Treinei três meses, perco em média 13kg para lutar, então o sofrimento é muito grande. Para o cara abrir a boca e falar mal de mim. Não tenho que pedir desculpas. Fico triste, nunca vou entrar ali para perder. Meu próximo adversário é Steven Siler. Vou entrar do mesmo jeito que entrei, com a mesma cabeça. Se for para ficar com a mão baixa, vou ficar, se for para trocar de base, vou trocar. Foi assim que cheguei ao UFC e é assim que pretendo ficar. Se eu sair do UFC do jeito que entrei, vou ficar feliz do mesmo jeito, porque não deixei de ser o Rony melhor.